domingo, 9 de junho de 2013

Depoimentos sobre Leitura e Escrita

Adriádene Cavalcante Rodrigues

Sou baiana de uma cidade minúscula da Chapada Diamantina. Aprendi a ler com a ajuda da minha mãe, uma mulher guerreira que só estou até o 2º "ano primário", como se dizia naquela época. No início eram gibis, que eu devorava. Depois, lia as fotonovelas da minha mãe, escondida. Ela achava que não era nada adequado para minha idade.   Quando entrei na escola, surpreendi a todos, por já ser letrada.  É claro que aprendi muito na escola, mas a minha base, já estava lá, bem sedimentada.

A partir da escola, tudo o que eu via, tinha que ler. E adquiri um hábito estranho: o de escrever palavras no ar. Algumas pessoas da família achavam que eu tinha algum problema "de cabeça", por isso. Aprendi a me controlar, especialmente depois que descobri que o diário podia ser minha lousa pessoal. Escrevia muito, o tempo todo, sobre tudo. Ainda guardo, inclusive, algumas atividades da 4ª série, e confesso que até que escrevia direitinho. Havia uma professora que lia historinhas que para mim, eram mágicas. Eu a ouvia, absorta. Achava lindo, ser professora.  Estava plantada em mim, a semente da docência.

Passei lendo, a maior parte da minha infância. Nunca gostei de brincadeiras que envolvessem confrontos físicos, ou aventuras muito arriscadas, o que acho que foi um pouco ruim para minha formação. Mas foi uma infância feliz. 

Devido a problemas de saúde da minha mãe, nunca pude estudar o quanto gostaria. Lamentavelmente, ela veio a falecer em 1999. Um ano depois, me matriculei no curso de Letras. Foram muitos livros lidos, alguns contra minha vontade, eu confesso, mas a grande maioria abriu em mim, uma janela para o mundo. A faculdade chegou ao fim. A partir de então, dou vazão às minhas maiores paixões: ensinar meus alunos a gostar de ler e escrever, seja em português ou inglês.




Adriana Alves Moreira Barbosa

Alguns depoimentos também me fizeram lembrar minha mãe, uma pessoa muito simples, humilde, não tem escolaridade completa, mas sempre leu e lê tudo o que encontra pela frente. O interessante é que nunca me incentivou, nem pediu que eu lesse nada. Apesar toda sua simplicidade, ela escreve e fala muito bem e eu sempre a admirei por isso. Quando criança me perguntava como ela falava e escrevia perfeitamente. Depois de algum tempo, entendi que a leitura a tornou completa e a minha admiração por ela abriu as portas para a leitura que, como a minha mãe, faz parte da minha história de vida. 


Bartolomeu Colacique

No meu caso, a leitura não era um hábito em casa, quando era criança.  Na escola, no curso primário, líamos os livros didáticos, fichas de leitura com textos simples, padronizados e escrevíamos "composições" curtas, cheias de fórmulas, diante de gravuras sempre parecidas. 

O fato de ter ingressado num seminário, no ginásio, me obrigou a disciplinar meus estudos com muita leitura e cobrança do entendimento, com discussões e conversas informais sobre tudo o que era lido. Claro que eram livros escolhidos por religiosos, geralmente com temáticas polêmicas que ampliavam o campo da imaginação, dos conceitos e das escolhas. Isso me ajudou a tomar o gosto pela leitura, pela escrita e pela sua construção. 

Assim, logo que terminei o antigo colegial, optei pela faculdade de Letras e tornei-me um professor de Português. Ensinar sempre foi um desafio e, hoje em dia, mais ainda pela concorrência com as facilidades da comunicação tecnológica a que os alunos têm acesso. 

A leitura se tornou importante para mim no momento em que descobri sua função: para que ler? E essa é a pergunta que fazemos ao aluno, para que ele descubra a função social de cada texto, de cada gênero com seus elementos estruturais específicos. A escrita é uma consequência. A leitura propicia enriquecimento de vocabulário, de ideias, de conceitos, da construção da imagem mental das palavras, enfim, só aprimora a produção escrita.

Ao ler e ouvir depoimentos sobre leitura e escrita, eu identifiquei-me com algumas colocações, como as de Danuza Leão, que diz ler tudo o que aparece para ler; o de Newton Mesquita, que tem a sensação de familiaridade com textos; com Antônio Candido, que fala sobre a humanização que a leitura propicia, ao despertar para a reflexão, o humor, a emoção, que vêm embutidos nos textos e com Rubem Alves que entende que o escritor se transforma nas palavras que o leitor devora, se transportando para o texto, numa grande alquimia. Também achei muito interessante a colocação daquela senhora, Clair Feliz Regina, que diz que na poesia você cria o que quiser. Acrescento que a escrita faz isso. Na escrita, você é o que quiser, em qualquer tempo, em qualquer lugar. Isso é mágico! 

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