Adriádene
Cavalcante Rodrigues
Sou baiana de uma cidade minúscula da Chapada Diamantina. Aprendi
a ler com a ajuda da minha mãe, uma mulher guerreira que só estou até o 2º
"ano primário", como se dizia naquela época. No início eram gibis,
que eu devorava. Depois, lia as fotonovelas da minha mãe, escondida. Ela achava
que não era nada adequado para minha idade. Quando entrei na escola,
surpreendi a todos, por já ser letrada. É claro que aprendi muito na
escola, mas a minha base, já estava lá, bem sedimentada.
A partir da escola, tudo o que eu via, tinha que ler. E adquiri um
hábito estranho: o de escrever palavras no ar. Algumas pessoas da família
achavam que eu tinha algum problema "de cabeça", por isso. Aprendi a
me controlar, especialmente depois que descobri que o diário podia ser minha
lousa pessoal. Escrevia muito, o tempo todo, sobre tudo. Ainda guardo,
inclusive, algumas atividades da 4ª série, e confesso que até que escrevia
direitinho. Havia uma professora que lia historinhas que para mim, eram
mágicas. Eu a ouvia, absorta. Achava lindo, ser professora. Estava
plantada em mim, a semente da docência.
Passei lendo, a maior parte da minha infância. Nunca gostei de
brincadeiras que envolvessem confrontos físicos, ou aventuras muito arriscadas,
o que acho que foi um pouco ruim para minha formação. Mas foi uma infância
feliz.
Devido a problemas de saúde da minha mãe, nunca pude estudar o
quanto gostaria. Lamentavelmente, ela veio a falecer em 1999. Um ano depois, me
matriculei no curso de Letras. Foram muitos livros lidos, alguns contra minha
vontade, eu confesso, mas a grande maioria abriu em mim, uma janela para o
mundo. A faculdade chegou ao fim. A partir de então, dou vazão às minhas
maiores paixões: ensinar meus alunos a gostar de ler e escrever, seja em
português ou inglês.
Adriana
Alves Moreira Barbosa
Alguns depoimentos também me fizeram lembrar minha mãe, uma pessoa
muito simples, humilde, não tem escolaridade completa, mas sempre leu e lê tudo
o que encontra pela frente. O interessante é que nunca me
incentivou, nem pediu que eu lesse nada. Apesar toda sua simplicidade, ela
escreve e fala muito bem e eu sempre a admirei por isso. Quando criança me
perguntava como ela falava e escrevia perfeitamente. Depois de algum tempo,
entendi que a leitura a tornou completa e a minha admiração por ela abriu as
portas para a leitura que, como a minha mãe, faz parte da minha história de
vida.
Bartolomeu
Colacique
No meu caso, a leitura não era um hábito em casa, quando era
criança. Na escola, no curso primário, líamos os livros didáticos, fichas
de leitura com textos simples, padronizados e escrevíamos
"composições" curtas, cheias de fórmulas, diante de gravuras sempre
parecidas.
O fato de ter ingressado num seminário, no ginásio, me obrigou a disciplinar
meus estudos com muita leitura e cobrança do entendimento, com discussões e
conversas informais sobre tudo o que era lido. Claro que eram livros escolhidos
por religiosos, geralmente com temáticas polêmicas que ampliavam o campo da
imaginação, dos conceitos e das escolhas. Isso me ajudou a tomar o gosto pela
leitura, pela escrita e pela sua construção.
Assim, logo que terminei o antigo colegial, optei pela faculdade
de Letras e tornei-me um professor de Português. Ensinar sempre foi um desafio
e, hoje em dia, mais ainda pela concorrência com as facilidades da comunicação
tecnológica a que os alunos têm acesso.
A leitura se tornou importante para mim no momento em que descobri
sua função: para que ler? E essa é a pergunta que fazemos ao aluno, para que
ele descubra a função social de cada texto, de cada gênero com seus elementos
estruturais específicos. A escrita é uma consequência. A leitura propicia
enriquecimento de vocabulário, de ideias, de conceitos, da construção da imagem
mental das palavras, enfim, só aprimora a produção escrita.
Ao ler e ouvir depoimentos sobre leitura e escrita, eu identifiquei-me
com algumas colocações, como as de Danuza Leão, que diz ler tudo o que aparece
para ler; o de Newton Mesquita, que tem a sensação de familiaridade com textos;
com Antônio Candido, que fala sobre a humanização que a leitura propicia, ao
despertar para a reflexão, o humor, a emoção, que vêm embutidos nos textos e
com Rubem Alves que entende que o escritor se transforma nas palavras que o
leitor devora, se transportando para o texto, numa grande alquimia. Também
achei muito interessante a colocação daquela senhora, Clair Feliz Regina, que
diz que na poesia você cria o que quiser. Acrescento que a escrita faz isso. Na
escrita, você é o que quiser, em qualquer tempo, em qualquer lugar. Isso é mágico!
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